Para quem não teve a
oportunidade de fazer parte deste evento, traremos aqui neste breve relato um
resumo dos principais momentos vivenciados neste Seminário em comemoração ao
Dia do Surdo. Quem sabe, assim, você se motive a participar do próximo!
Diversas modalidades
de Minicursos foram oferecidos e
contribuíram para elevar o nível de qualidade do Seminário:
Humor Surdo – Prof. Jefferson
Diego de Jesus (UFPR)
Artefatos Culturais – Prof.
Mndo. Danilo da Silva (UFPR)
Esportes para Surdos –
Anderson Santana
Organização Política
dos Surdos – Ana Regina Campelo (UFRJ)
Guia Intérprete para
Surdo-cego – Profª Esp. Rosani Suzin (FENEIS-PR)
Introdução ao
Signwriting - Profª Mnda. Daiane Ferreira (UFSC)
Dentre as Palestras que em muito enriqueceram
nosso conhecimento, tivemos:
Políticas Públicas
para Inclusão Social dos Surdos - Ms. Roger Prestes – Secretário do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com
Deficiência de Porto Alegre
Humor Surdo -
Jefferson Diego de Jesus
Poesia Surda - Rosani
Suzin
Movimentos Surdos – Prof. Drª. Ana Regina Campello
No meu ponto de vista,
“Escola Bilíngue para Surdos” tópico desenvolvido com muita propriedade por Ana
Regina em sua palestra “Movimentos Surdos”, foi o tema mais inquietante e
pertinente ao momento em que vivemos. Por isso, vamos nos estender um pouco
neste tema que tem sido determinante dentro do espectro dos movimentos surdos
ao longo da história especialmente para o nosso tempo.
O Bilinguismo vem
sendo defendido e recomendado como um enfoque educacional no Brasil desde a
década de 1970, logo após a decadência da Filosofia Educacional da Comunicação
Total. Com a Lei 10436 em 2002 e o Decreto 5626 em 2005, muitos entenderam que
esta busca por um modelo eficaz havia chegado ao seu final, e que a partir daí,
nada mais seria necessário para que o cidadão surdo tivesse um caminho que o
levasse à plena educação. É verdade que os tempos atuais são de conquistas e
inegável avanço, mas, os estudos surdos e o próprio movimento do povo surdo vêm
mostrando que há ainda muito a ser feito antes de considerarmos um sucesso
absoluto o que vivemos nos dias de hoje.
São muitas as questões
abordadas e debatidas. Dentre os principais fatores destacamos:
a grande maioria dos
surdos tem pais ouvintes, e, em decorrência disso, as crianças surdas não tem
tido acesso à Libras como língua materna (L1);
o foco tem sido direcionado
para a formação de tradutores intérpretes, mas, a criança surda não conhece a
sua própria língua, e não pode ser beneficiada pela simples oferta do tradutor
intérprete em sala de aula;
a alfabetização dos
surdos se dá aos 7 anos de idade e em escolas “inclusivas”, que adotam o
português como primeira língua, o que contribui para a dificuldade da aquisição
da Libras como primeira língua pela criança surda;
a inclusão, tão
defendida e praticada ao longo de décadas, não proporcionou efetivamente uma
educação de qualidade, visto que com uma visão simplista na prática de colocar
alunos surdos em um mesmo espaço onde pudessem compartilhar língua e cultura
com outros alunos ouvintes, não possibilitou o aprendizado efetivo da sua própria
língua e consequentemente, nem o português escrito como segunda língua.
Entendemos que muitos
são os desafios para uma nova era dentro de uma nova perspectiva de modelo
bilíngue para os tempos modernos. Ana Regina citou várias práticas que deverão
ser revistas e ou implementadas para uma educação bilíngue de qualidade, e que
possa se sustentar ao longo da trajetória do povo surdo. Dentre elas:
A utilização da Libras
em todas as camadas do ambiente escolar por todos os seus integrantes:
diretoria, professores, funcionários, alunos, proporcionando um ambiente
natural de comunicação em Libras;
O respeito e a promoção
da identidade e da cultura surda, com ética, valorizando a Libras e proporcionando
a construção natural da autoestima e da cidadania pelos alunos surdos.
A exposição destes
alunos ao convívio com docentes surdos bem sucedidos tido como modelos
positivos na construção da sua identidade.
Incentivar os
discentes a se tornarem profissionais atuantes em áreas estratégicas como por
exemplo a de professores surdos para a manutenção e garantia do futuro da
escola bilíngue.
Tradução das
publicações para a Libras oportunizando aos alunos o acesso à informação em sua
própria língua.
Manter um programa de
continuidade na capacitação e treinamento dos professores envolvidos
diretamente com a educação de surdos.
Ampliar a formação das
áreas afins como pedagogia e fonoaudiologia com um programa que envolva não só
a língua, mas a identidade, a cultura e a ética.
Na conclusão de sua palestra, Ana Regina
reforçou a importância da participação e do envolvimento das pessoas surdas nas
causas e movimentos surdos para dar continuidade ao processo de aperfeiçoamento
dos modelos existentes. Destacou também que hoje colhemos os frutos do que se
plantou ao longo das décadas e que muitos surdos, dentre eles alguns já
falecidos, lutaram para que pudéssemos usufruir das boas condições atuais, e
que da mesma forma devemos nos empenhar para construir um futuro ainda melhor
para as próximas gerações.