A comunicação dos surdos permeia basicamente em três estágios:
a) Língua de Sinais, que se divide em Formal e Informal,
b) Sistemas de Classificação,
c) Português Sinalizado ou Português com Sinais.
Estes são níveis em que os surdos utilizam a Língua de Sinais de maneira mais “pobre” e/ou mais “rica” do vocabulário da sua própria língua, da mesma maneira que na língua nacional existe o vocabulário popular (coloquial) e o erudito.
a1) A Língua de Sinais Formal utiliza a estrutura da Língua de Sinais, que é a imagem do pensamento, porém, fiel ao português, ou seja, o sinal é fiel à palavra.
a2) A Língua de Sinais Nativa ou Informal (não confundir com dialetos, mímica, gestos, pantomima) utiliza a estrutura da Língua de Sinais, ou seja, a colocação do objeto sem o artigo e a preposição, e não é fiel ao português, ou seja, o sinal apresentado é composto pela visualização da imagem mental da coisa, pessoa, animal ou situação a ser descrita, usando expressões próprias da língua como, por exemplo, os Classificadores. (esta é a dificuldade maior com a estrutura da Língua Portuguesa).
A maioria dos surdos utiliza a Língua de Sinais informal na comunicação. Podemos afirmar que, é muito difícil para o surdo, que só utiliza a Língua de Sinais informal (nativa), aprender a Língua Portuguesa. Nestes casos, é válida a prática da Língua de Sinais Formal, mesmo incorrendo no Bimodalismo, ou Português Sinalizado, para obter um melhor desempenho com a Língua Portuguesa.
b) Sistemas de Classificação (tópico já abordado anteriormente)
c1) O Português Sinalizado é uma modalidade de comunicação que foi bastante utilizada na educação de surdos durante a era da Filosofia de Educação da Comunicação Total, amplamente difundida na década de 70. Essa prática recebe também o nome de ‘Bimodalismo’ porque usa os sinais dispostos na sintaxe e semântica da Língua Portuguesa. Isto se dá traduzindo literalmente cada palavra do português pelo seu sinal correspondente em LSB. Esta prática fere profundamente as regras semânticas e sintáticas da Língua de Sinais, que usada desta forma, perde sua identidade tornando sua comunicação ineficiente. O objetivo era facilitar a comunicação e a aquisição da linguagem pela criança surda e, consequentemente, alcançar um melhor desempenho na leitura e na escrita.
Embora, por princípio, a Comunicação Total apoiasse o uso simultâneo da Língua de Sinais com a língua falada, na prática, tal conciliação nunca foi e nem poderia ser efetivamente possível devido à natureza extremamente distinta da Língua de Sinais com sua morfologia e sintaxe simultânea e espacial e, logo, à descontinuidade entre ela e a língua falada pela impossibilidade de preservar as estruturas das duas línguas ao mesmo tempo, além da Língua Portuguesa sinalizada constituir-se num sistema artificial para o surdo.
É difícil para as pessoas surdas entenderem a mensagem do conteúdo em situações mais complexas, como o ensino do conteúdo, ele confronta duas modalidades desorganizando o entendimento. A tradução fragmentada congela as estruturas da LSB, privando-a de suas representações espaciais – que incluem movimento e direção – responsáveis pela concordância e pelas relações sintáticas, entre outros aspectos linguísticos, geradores de sentido, e, ainda, despreza as diferenças estruturais entre a língua-fonte e a língua-alvo. Além disso, essa estratégia não dá conta dos Classificadores, constituintes da LSB, que, além de descreverem objetos, descrevem ações no espaço.
A naturalidade com que muitos surdos traduzem palavra por palavra da LP para a LSB pode ser explicada como resultado da prática de interpretação estanque e descontextualizada a qual foram e têm sido submetidos nos métodos da Comunicação Total que preconizam o Português Sinalizado como técnica importante para o acesso à língua-alvo para os surdos. Nessa abordagem, a LSB não passa de trampolim para se chegar à LP, é apenas um instrumento para o aprendizado da LP. Pouco importa a estrutura da LSB, pois, na Comunicação Total, a LS é vista como um recurso a mais, uma “linguagem” pobre e simplificada e não uma língua com características próprias e especificidades.
c2) O Português Com Sinais é muito parecido com o Português Sinalizado, porém, com as seguintes diferenças: em vez de basear-se na estrutura do português, usa a base escrita da língua, o que faz com que haja variações de concordância e flexões que são digitadas. Isto ocorre também com as preposições, artigos, conjunções e outros elementos que não encontram correspondência na Libras.
O PIDGIN nasce da utilização de palavras de uma língua com a estrutura de outra língua. Quando estão em contato social, o pidgin surge do intercâmbio de uma língua com outra. Portanto, podemos afirmar que o Português Sinalizado e o Português Com Sinais são exemplos de PIDGIN.
Referencial Bibliográfico: Cappovilla, Quadros, Britto, Imagem do Pensamento - Editora Escala