sábado, 10 de abril de 2010

Iconicidade e Arbitrariedade

Antes de analisarmos a questão da Iconicidade na Libras, perguntamos: o que é ICONICIDADE? Categoria fundada na plasticidade, consiste na faculdade de um signo poder representar “figurativa ou pictoricamente” o objeto tomado como referente. Já a ARBITRARIEDADE significa tão somente que não há motivos para que os termos da relação sígnica sejam esses e não outros. Porém, uma vez estabelecida a relação sígnica por convenção ela tem a força que tem a convenção, ou seja, tem a necessidade que tem a convenção que a instaura.

Ainda que pareça estranho falar de iconicidade em signos (verbais) nascidos de convenção, em que arbitrariedade é condição de existência, verifica-se a existência de estudos de iconicidade verbal, iconicidade léxica, iconicidade textual, iconicidade diagramática etc.

A comunicação verbal é um processo de negociação de sentidos. Envolve as imagens mentais, construídas por um enunciador, que são traduzidas em signos (verbais e não-verbais, no caso do texto escrito), e que são reconstruídas pelo leitor ou intérprete (co-enunciador). A plasticidade textual é, assim, “referência de iconicidade”, e o código linguístico, neste caso, é “uma das forças exteriores que constrói a plasticidade textual” (Simões, 2007). O texto, como imagem (elemento objetivo), estimula a imaginação (subjetividade) e o controle dessa subjetividade depende da eficácia da trama textual. Esta deve estar direcionada à univocidade de sentido, para proteger o leitor “das ambiguidades, dos equívocos, das plurissignificações” (Simões, 2007), a menos que a falta de clareza seja, justamente, o propósito do autor. As escolhas léxico-semântico-sintáticas podem revelar ou confundir o leitor, em relação à intenção e ao sentido do texto, e podem refletir “certa forma de ver o mundo”. (Cf. Simões, 2007.)

Em Peirce, as relações de iconicidade do signo com o mundo não-linguístico contrapõem-se à arbitrariedade do signo, em Saussure. Simões lembra Nöth (1999), para quem “é icônica a representação do mundo pela língua em nossa mente” (cf. Simões, 2006).

Peirce dividiu os signos icônicos em três níveis: a imagem, cuja relação de semelhança com o objeto dá-se no nível da aparência, o diagrama, que mantém similaridade com seu objeto no nível das relações internas - o signo visa representar as relações internas do objeto - e a metáfora, cuja relação com o objeto dá-se por identidade. Aplicando o conceito de diagrama ao texto escrito, podemos inferir, com Simões (2007), que a iconicidade diagramática está inscrita no texto através dos aspectos morfológicos, sintáticos e vocabulares, ou seja, através das qualidades dos seus constituintes e da estrutura textual, que são responsáveis pelas redes semióticas. Essa materialidade é motivada pelo projeto do texto e está ancorada no domínio e no repertório linguísticos do enunciador. Todos esses níveis de representação estão relacionados com as qualidades que os signos exibem, que é o que vai gerar as cadeias associativas de semelhança - condição fundamental de iconicidade.

ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE NA LIBRAS
SINAIS ICÔNICOS
A modalidade gestual-visual-espacial pela qual a LIBRAS é produzida e percebida pelos surdos leva, muitas vezes, as pessoas a pensarem que todos os sinais são o “desenho” no ar do referente que representam. É claro que, por decorrência de sua natureza linguística, a realização de um sinal pode ser motivada pelas características do dado da realidade a que se refere, mas isso não é uma regra. A grande maioria dos sinais da LIBRAS são arbitrários, não mantendo relação de semelhança alguma com seu referente.

Uma foto é icônica porque reproduz a imagem do referente, isto é, a pessoa ou coisa fotografada. Assim também são alguns sinais da LIBRAS, gestos que fazem alusão à imagem do seu significado. Isso não significa que os sinais icônicos são iguais em todas as línguas. Cada sociedade capta facetas diferentes do mesmo referente, representadas através de seus próprios sinais, convencionalmente, (FERREIRA BRITO, 1993).

SINAIS ARBITRÁRIOS
São aqueles que não mantêm nenhuma semelhança com o dado da realidade que representam.
Uma das propriedades básicas de uma língua é a arbitrariedade existente entre significante e referente. Durante muito tempo afirmou-se que as línguas de sinais não eram línguas por serem icônicas, não representando, portanto, conceitos abstratos. Isto não é verdade, pois em língua de sinais tais conceitos também podem ser representados, em toda sua complexidade.

Referencial Bibliográfico:
Karin Strobel em “ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LIBRAS” (SEED-DEE-PR)
Darcilia M. P. SIMÕES e Maria do Socorro ARAGÃO em “ICONICIDADE NO LÉXICO E REPERTÓRIO DISCENTE”.
Maria Noêmi Freire da Costa Freitas em “ICONICIDADE E LEITURA”.
António Fidalgo em “DA SEMIÓTICA E SEU OBJECTO”.