A Libras é universal?
Não. A libras não é universal. Existe
o Gestuno, que é considerada uma língua internacional. Uma forma simples de
representação das línguas de sinais, porém não muito utilizada ou difundida.
Ver: A Universalidade da Língua de Sinais.
A Libras é uma Linguagem ou uma Língua?
Libras é uma língua. A definição de
linguagem como meio de expressão não contempla o universo da Libras, que
permeia as complexidades e características de Língua assim como as línguas
orais. A Libras apresenta sintaxe, semântica, fonologia e demais aspectos
comuns às demais línguas. Ver: Conceitos Introdutórios.
O Alfabeto Manual é universal?
Não. O Alfabeto Manual não é
universal. Assim como a Língua, o alfabeto é também próprio de cada país ou
comunidade que se apropria dele como ferramenta de comunicação. Um empréstimo
linguístico da L2. Ver: Alfabeto Manual.
Por quê os surdos geralmente apresentam dificuldades de fala?
É comum vermos surdos apresentarem
dificuldades de fala. Não que isto implique em alguma limitação patológica ou
anatômica que o justifique, porém, os surdos (maioria) têm a Libras como L1 e o
Português como L2. Ou seja, o português como uma língua estrangeira.
Como obter a certificação de tradutor/intérprete?
Para obter a certificação de
tradutor/intérprete conferida pelo MEC, há somente um caminho a seguir:
primeiro há a necessidade de contato com a comunidade surda suficiente para
propiciar fluência na Libras, e/ou cursos preparatórios para esta prova, que é aplicada
em Libras através de vídeos geralmente com textos sinalizados por surdos.
Depois disto, deve-se ficar atento aos calendários de exames de proficiência
aplicados pela COPERV - http://www.coperve.ufsc.br/prolibras/, através do
PROLIBRAS – http://www.prolibras.ufsc.br sob a gestão
da UFSC. Estes exames geralmente são anuais, e são realizados nos polos das
Universidades federais por todo o país.
Existem cursos de Libras com certificação do MEC?
São raros, mas existem. A questão é
simples: a maioria dos cursos ministrados por entidades particulares, ainda que
com instrutores credenciados pelo MEC, não tem o reconhecimento do MEC.
Existem, sim, cursos de pós-graduação ou extensão ofertados por universidades
ou faculdades credenciadas pelo MEC, e, portanto, com o reconhecimento do MEC,
porém, ainda, sem uma padronização de conteúdo programático prático/teórico,
muito variado pelas instituições de ensino.
Ouvintes podem ser instrutores de Libras ou é uma atividade
exclusiva dos surdos?
Por muitos anos permaneceu a grande
discussão sobre este tema tido como polêmico. Muitos surdos (maioria) viam a
atividade de ensino da Libras como uma oportunidade de trabalho, geralmente
escasso pelas péssimas políticas de inclusão nas décadas passadas, e não
admitiam que ouvintes, independentemente da capacitação para o ensino,
ensinassem Libras. A questão era tida como ética e fomentava grandes movimentos
que às vezes chegavam a extremos. A partir de 2006, com o exame de certificação
aplicado pelo MEC, a discussão teve um fim, pois de acordo com o MEC,
independentemente da situação de surdo ou ouvinte, alguém que tenha conquistado
a certificação de proficiência para o ensino da Libras está plenamente apto a
exercer esta atividade.
Todos os surdos são aptos a ensinar Libras?
Não. Nem todos os surdos são aptos a
ensinar Libras. O fato de ser surdo não capacita nem habilita uma pessoa ao
ensino da Libras. Isto só é conquistado através do exame de proficiência do MEC
que atestará a capacidade para o exercício da atividade de Instrutor.
A Libras é uma língua padronizada em todo o país, ou existe
regionalismo?
Não a Libras não é padronizada. Assim
como as línguas orais, a Libras tem suas variações regionais e sociais, de
acordo com a cultura e a época que se fala. Boa parte da Língua é reconhecida
oficialmente através da publicação do dicionário oficial da Língua de Sinais.
Porém, o fato de não constar no dicionário não ratifica a tese de que não seja
Libras oficial. Somente reforça a ideia de que há um forte regionalismo
presente em nossa cultura. Ver: Variações Linguísticas (dialetos).
As línguas gestuais-visuais são inferiores às línguas orais?
Não. Algumas pessoas e até mesmo
estudiosos de línguas orais tem afirmado que as línguas de sinais são
inferiores às línguas orais. Isto se deve essencialmente à ignorância do
assunto. O que temos visto nas últimas duas décadas é que as línguas de sinais
demoraram muito tempo para se afirmarem como línguas, por terem sido vítimas de
preconceito e até mesmo marginalizadas pela sociedade predominantemente
ouvintista. A partir da década de 1990 após estudos pioneiros da linguista
Lucinda Ferreira Britto e mais tarde por outros tantos nomes de expressão como,
Lodenir Karnopp, Tania Felipe, Ronice Quadros, Gladis Perlin, Karin Strobel, e
muitos outros tantos nomes do mundo linguístico, que esta falsa impressão foi
desmascarada. Sabemos que os estudos da Libras ainda não são suficientes,
principalmente pela complexidade da própria Libras, que permeia campos muito
densos, como por exemplo, os Sistemas de Classificação, ainda pouco
perscrutados pelos estudiosos o que nos proporcionará amplo material de estudo
ainda por muitas décadas. Talvez a ausência de uma Gramática Oficial induza os
estudiosos mais superficiais a acreditarem nesta falsa afirmação. Além do que,
não seria justo comparar línguas de espectros tão distintos como estes:
Português oral/escrito / linear já a Libras é visual / gestual / espacial / multidimensional. Ver: Um paralelo entre a Libras e o Português.
Ouvintes podem apresentar uma Identidade Surda?
Sim. Ouvintes podem apresentar uma
identidade surda, quando expostos a ela precocemente, geralmente como acontece
nas famílias de pais surdos com filhos ouvintes que tem como língua materna a
Libras L1 e posteriormente aprendem o Português L2. Ver: Identidade Surda.
Existem gírias ou expressões idiomáticas na Libras?
Sim. Da mesma forma como acontece nas
línguas orais, na Libras os meios de influência destes fenômenos linguísticos
são a cultura e a dinâmica da própria língua. Existem dezenas, talvez centenas
de expressões idiomáticas e gírias na Libras. Isto também varia de acordo com a
região e a época. Cada geração tem imprimido sua identidade nas formas de
comunicação, que vem mudando cada vez em espaços mais curtos de tempo. As novas
gerações jovens tem a necessidade de criar seu próprio estilo e isto se aplica
também à Libras. O que não deveria ocorrer, é a perda ou o desuso de sinais ou
expressões mais ricas por expressões mais pobres, simplesmente por serem mais
modernas, atuais. Assim, perde-se em qualidade e em conteúdo, o que é
lamentável para qualquer cultura. Nas línguas orais isto é um pouco minimizado
pelos registros escritos (livros) e visuais (vídeos, filmes, documentários)
Porém, na Libras, por se tratar de uma língua visual, e termos pouquíssimos
registros dela ao longo das décadas, o risco de perda é muito maior.
Como entender os critérios utilizados para dar sinal às pessoas
e às coisas?
São muitos os critérios utilizados
pelos surdos para dar sinal às pessoas e às coisas. Quanto às pessoas,
geralmente prevalece uma característica física ou fisionômica, seguida de
características marcantes de trejeitos, atividades, gostos, etc. No caso das
coisas, as características descritivas (forma, tamanho, textura) ou de funcionalidade
e instrumentalidade são observadas criteriosamente para se chegar ao sinal
(significante) que represente melhor aquela coisa (significado). É comum vermos
sinais de pessoas e, às vezes também, de coisas, executados com a Configuração
de Mão de representa a letra inicial da palavra em português. Isto não é regra.
É, portanto, uma exceção justificada pela influência da língua escrita
(português) sobre a língua gestual (Libras). Hoje, mais raramente se observa
esta apropriação, devido ao amadurecimento da comunidade surda e da valorização
da Libras com as políticas públicas e amparo da legislação legal.
Para todas as palavras da Língua Portuguesa encontramos um sinal
correspondente na Libras?
Não. Cada língua tem sua
raiz na sua própria cultura. Isto implica em uma comunicação baseada na
vivência e comportamento desta comunidade que se utiliza da língua para expressar
suas capacidades e manifestar suas experiências ao longo da vida. Isto não quer
dizer que não possamos interpretar uma palavra do português que não tenha uma
referência imediata na Libras. O que geralmente acontece é 1) o intérprete
inexperiente soletra usando o alfabeto manual e simplesmente não comunica, pelo
simples fato de a palavra soletrada ser desconhecida do surdo. 2) o intérprete
mais experiente soletra e explica com dois, três, quatro ou quantos sinais
achar necessários para comunicar a ideia ou o significado daquela palavra.
Assim transporta conhecimento de uma cultura para outra e estimula a criação de
novos sinais que comporão o vocabulário desta língua. Curiosamente o inverso
também acontece. Na tradução da Libras para o português, muitos sinais que não
tem correspondência no português precisam ser esmiuçados em diversas palavras
para comunicar com o mesmo conteúdo, às vezes de um único sinal, geralmente
rico em conteúdo e de difícil tradução com um simples e único vocábulo. Assim,
ao longo dos tempos vamos construindo um referencial linguístico comum de ambas
as culturas, o que propicia um mútuo enriquecimento. Vemos muitos exemplos de
importação de expressões originalmente americanas para a nossa cultura, e
ninguém acha anormal. Por quê? Culturalmente fomos nos acostumando ao fato de
usar cada vez mais estrangeirismos, em vez de nos apropriarmos cada vez mais da
nossa própria língua e cultura. A exemplo desta postura podemos citar a França.