sábado, 10 de abril de 2010

Variações Linguísticas (dialetos)

Apesar de ainda não haver estudos conclusivos sobre variações linguísticas na Libras, podemos discorrer pelos aspectos mais relevantes e ampliarmos um pouco nossa visão sobre regionalismo. Muitos leigos, equivocadamente, têm a Língua de Sinais como universal. Deste tópico já tratamos no tema “A Universalidade das Línguas de Sinais”. Outros imaginam que a Língua de Sinais falada no país é uniforme e padronizada. Eis aqui outro grande equívoco.
Os principais fatores desencadeantes deste processo são: cultural (literatura, artefatos), - tema bem abordado por Karin Strobel em seu livro “As Imagens do Outro Sobre a Cultura Surda”, geográfico, econômico e principalmente social (oportunidade, preconceito, discriminação). Neles estão contidas as explicações para as variações, não só de léxico, vocabulário, mas também, e principalmente no aspecto morfológico e semântico. Se ignorarmos estes pormenores, deixaremos de reconhecer as muitas diferenças de vocabulário, expressões idiomáticas, gírias locais, dialetos (ramificações de uma determinada lingua relacionada a uma região), polissemias e até mesmo de sotaque. Por isso devemos colocá-los todos como coresponsáveis para uma análise mais ampla e realista do retrato nacional da Libras e suas variantes.
A maneira como as pessoas de regiões diferentes enxergam o mundo, ainda que num mesmo país, difere em muito. A bagagem sociocultural de cada indivíduo e sociedade interferem na elaboração do signo, seja na criação do significante ou na produção do significado.

A psicóloga Walkiria Duarte Raphael, uma das autoras do Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira (Edusp, 2001), afirma “a unidade linguística é um mito mesmo na linguagem por sinais”.
No passado, o isolamento era grande. Os sinais eram passados de geração a geração e se restringiam à representação do cotidiano, nada muito específico. Hoje, a presença no ambiente escolar tem estimulado a criação de muitos novos sinais, já que há disciplinas e termos técnicos, além de permitir o contato do estudante com os sinais de outras regiões.
Mas nem sempre os surdos encararam com bons olhos o contato com sinais de outras regiões, percebemos que diante de um termo diferente os surdos tendiam a dizer que aquele sinal estava “errado”. Hoje, as variações são mais aceitas. - A própria comunidade surda tinha uma rixa. Daí a resistência dos surdos em aceitarem sinais de outras culturas. Tínhamos de convencê-los de que aquele sinal era representativo para determinada região. Havia bairrismo – diz.

É inegável a influência da Língua Portuguesa, que acaba por determinar a constituição de vários elementos semânticos, estruturais e discursivos da Língua de Sinais. Isso não deixa de acontecer também no universo das gírias.
Mas, a despeito de todas estas diferenças, todos os usuários da Libras conseguem comunicar-se uns com os outros e entendem-se bem, apesar de não haver sequer dois que façam sinais da mesma maneira - explica a linguista Lodenir Becker Karnopp.
Há, sim, uma tentativa de padronização das associações de apoio ao surdo. Há muitos sinais que já são padronizados e usados em congressos, por exemplo. Mas é preciso respeitar a diversidade - comenta Walkiria Duarte. A mesma diversidade, aliás, que torna a Libras e a Língua Portuguesa admiradas pelos seus usuários.

Fonte: Walkiria Duarte Raphael, Lodenir Becker Karnopp, Karin Lilian Strobel em http://www.jorwiki.usp.br/gdmat08/index.php/Regionalismos_da_l%C3%ADngua  


Abaixo, definições teóricas dos dois tipos de dialetos encontrados na Libras:


Dialeto Regional
Ocorrem grandes diferenças na composição do sinal devido a origem regional de um mesmo país. (regionalismo) (LP: idiossincrasia, LS: tautologia).

Dialeto Social
Ocorre variação morfológica, onde certos traços da língua (CM, PA, MV, DM, OM, RC) sofrem pequena variação. Isto se deve geralmente às diferenças culturais, educacionais ou sociais.